Men at Work volta ao Brasil em fase mais leve, 40 anos após auge: ‘Não foi uma época feliz’

19 de fevereiro de 2024

Basta ouvir a introdução de saxofone de “Overkill” ou a flautinha marota de “Down Under” para entender como o Men at Work se tornou uma banda muito, muito pop. Entre 1981 e 1986, quando o grupo australiano acabou, eles venderam mais de 30 milhões de discos.

Mas o que aconteceu com a banda? E como esses hits foram criados? Para conseguir essas respostas, o g1 conversou com Colin Hay, líder do Men at Work. Entre idas e vindas, o grupo voltou em 2019, com direito a três shows no Brasil neste mês (veja detalhes no fim do texto). Colin começou o Men at Work aos 25 anos e agora está com 70. E aí, mudou muita coisa?

“Bem, você tem que ter certeza de lembrar de todas as letras… Isso é importante”, ele resume, rindo. “Ainda me sinto muito bem, sabe? Você vai fazendo enquanto pode… Eu também toco com o Ringo, às vezes, e ele tem 83 anos. E ainda consegue fazer isso, o que é bem inspirador. Eu penso: ‘Se ele pode, eu posso’.”

Na série “Quando eu hitei”, artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”.

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O velho e o novo Men at Work

Hoje, ele é o único remanescente dos anos 80. Colin tem a companhia de um trio de músicos cubanos e de duas integrantes americanas, incluindo a cantora Cecilia Noel, com quem é casado desde 2002.

“Ela é uma ótima compositora e é uma líder na banda, tem ótimos atributos. Eu me sinto muito à vontade com ela. Temos duas mulheres no Men at Work agora: Cecilia e nossa saxofonista e tecladista, Scheila Gonzalez.”

Em cinco anos, o Men at Work lançou três álbuns. Mas por que durou tão pouco? “Nós éramos seis homens juntos e muitas vezes, quando você tem 20 e poucos anos, muitos dos problemas são só a incapacidade de comunicar o que você realmente está sentindo e conseguir melhorar essas coisas. Nós não fizemos isso. Eu não sei se a banda teria durado mais ou não. Mas é… não foi uma época feliz.”

“Cometi alguns erros horríveis, horríveis mesmo, na minha vida. Então, sim, há muitas coisas que eu teria feito diferente, mas não posso fazer isso, né? Então, não, não estou bem com tudo o que eu fiz…”

O Men at Work ainda teve tempo de ganhar o Grammy de artista revelação, em 1983. Entre os concorrentes, estavam a banda de rock progressivo Asia e o grupo de pop eletrônico The Human League.

“Bem, a coisa mais emocionante para mim naquela noite foi o fato de que nosso camarim ficava ao lado do camarim do Miles Davis”, ele comenta. “A gente desceu no elevador ao lado do Ray Charles, que estava ao lado do Little Richard. Todas essas pessoas estavam lá! É muito emocionante. Isso, sim, é uma ótima lembrança.”

O peso de ‘Overkill’…

Forçando um pouco, dá para dizer que “Overkill” é sobre o fim da banda? A letra é sobre alguém com insônia, perdido em um fluxo de pensamentos doentios. “Acho que pode ser sobre muitas coisas, mas definitivamente é sobre perda”, ele responde, depois de pensar um pouco.

“A gente passou a fazer muito sucesso e as coisas não seriam mais as mesmas. Então, você, de certa forma, diz adeus à sua parte inocente. A parte de você que pode se observar e observar tudo ao seu redor. Era também, talvez, sobre depressão ou uma escuridão que pode invadir você e parte disso tem a ver com esse estado mental, parte disso tem a ver com vício, talvez.”

“Eu tinha um vício assustador em álcool. Mesmo que eu fosse jovem e pensasse que conseguiria lidar com aquilo, descobri que não conseguia”, ele confessa, rindo. “Então, talvez ‘Overkill’ seja sobre muitas dessas coisas.”

…e a leveza de ‘Down Under’

“Overkill” é uma música sobre vários temas… pesados. “Down Under” é quase o contrário (veja trechos dos clipes no vídeo no topo). Ela é cheia de situações tipicamente australianas. O mochileiro da música fala gírias do país e dá até uma dentada em um sanduíche com vegemite, uma pasta preta fermentada.

“Eu fui para a Austrália como imigrante, cheguei lá quando tinha 14 anos”, lembra o cantor, que nasceu na Escócia. “Então, tinha um grande amor por aquele lugar e ainda tenho. Mas pude sentir que talvez lá estivesse sendo meio que vendido. Eu tinha medo de ver florestas sendo derrubadas, sabe? Você deve ter essa sensação no seu país. É por isso que o refrão fala de homens saqueando, tomando conta do país. Naquela época, tivemos uma prévia do que aconteceria depois com a crise climática.”

“Essa música tem um significado bastante profundo. Mas na essência é uma música sobre celebração: a celebração do país, a maravilha que é este país.”

A inspiração da letra também vem de um cara chamado Barry Humphries (1934-2023), uma espécie de Chico Anysio australiano. “Quando éramos crianças, ele era um grande comediante, escritor e satírico. Ele tinha uma maneira diferente de ver a cultura australiana.”

Ele recorda que o humorista foi para a Inglaterra e começou a trabalhar com o escritor e também comediante Peter Cook (1937-1995). “Ele sugeriu que desenvolvesse esse personagem, Barry Mackenzie, um australiano bebedor de cerveja viajando da Austrália para Londres como muitos australianos fizeram.”

Men at Work em Curitiba

  • Quando: Terça-feira (20), às 21h
  • Onde: Live Curitiba – R. Itajubá, 143 – Novo Mundo
  • Abertura dos portões: 19h
  • Preços: Pista: R$ 600 (inteira), R$ 300 (meia), R$ 360 (meia solidária). Mezanino: R$ 500 (inteira), R$ 250 (meia), R$ 300 (meia solidária).

Via Portal G1

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