Ringo Starr e a Arte de Ser Subestimado nos Beatles
6 de fevereiro de 2025
Quando se fala em composições dos Beatles, os nomes que vêm à mente são óbvios: John Lennon e Paul McCartney, a dupla responsável por moldar a sonoridade do grupo e definir o curso da música pop. George Harrison, muitas vezes visto como o “terceiro Beatle”, também provou seu talento como compositor, criando clássicos como Something e Here Comes the Sun. Mas e Ringo Starr?
Embora seja um dos bateristas mais icônicos da história do rock, Ringo sempre teve uma relação um tanto cômica – e até frustrante – com a composição dentro dos Beatles. Ao longo da carreira da banda, ele conseguiu emplacar apenas duas músicas próprias: Don’t Pass Me By (1968) presente no White Album e Octopus’s Garden (1969) lançada no Abbey Road.
Além disso, coassinou apenas quatro outras faixas, o que é um número incrivelmente baixo considerando o tamanho da discografia do grupo. Mas essa ausência nunca foi um problema. Afinal, compor nos Beatles era praticamente um campo de batalha.
Ringo já revelou que suas primeiras tentativas de composição eram recebidas com risadas por John, Paul e George. Mas não por maldade – segundo o próprio baterista, ele involuntariamente reescrevia músicas que já existiam. Em entrevista ao canal dedicado à banda na SiriusXM, ele contou:
“Comecei a compor músicas e gostava de dizer a John, Paul e George: ‘tenho essa canção aqui que compus’. E eles rolavam no chão de tanto rir porque eu, sem perceber, simplesmente reescrevia a música de outra pessoa.”
Não é difícil imaginar a cena: três dos maiores compositores do século XX dando gargalhadas enquanto Ringo tentava apresentar uma ideia musical “original”. A primeira música solo assinada por ele, Don’t Pass Me By, só apareceu em 1968, nos momentos finais da banda. Já Octopus’s Garden veio no ano seguinte, e mesmo assim, teve um empurrãozinho de George Harrison, que ajudou Ringo a estruturar melhor a composição.
Se havia alguém que enxergava o potencial de Ringo como compositor, esse alguém era George Harrison. A relação entre os dois sempre foi mais próxima em comparação com o duo Lennon-McCartney, e Harrison frequentemente incentivava Ringo a compor. No documentário The Beatles: Get Back, lançado pela Disney+, há uma cena emblemática onde George aparece ao lado de Ringo, ajudando-o a desenvolver Octopus’s Garden.
Mas Harrison nunca tentou roubar créditos. Pelo contrário, ele sempre insistiu que a música era 100% de Ringo: “‘Octopus’s Garden’ é uma música de Ringo. É apenas a segunda que ele compôs, e é adorável. Tão pacífica. Acredito que Ringo compunha músicas cósmicas naqueles tempos sem sequer perceber.”
Se Ringo nunca foi um compositor à altura de Lennon, McCartney ou Harrison, ele também nunca precisou ser. Sua genialidade estava em outro lugar: no ritmo, na personalidade e no carisma que ajudaram a moldar o maior grupo da história da música.