De Darling a Persona non Grata: como Morrissey foi perdendo a simpatia de banda, fãs e mercado

24 de junho de 2025

A trajetória turbulenta que transformou o ex-Smith em um personagem polarizador

Nos anos 1980, Steven Patrick Morrissey representava uma sensibilidade rara no rock britânico. À frente do The Smiths, suas letras vulneráveis e seu estilo introspectivo cativaram uma geração inteira. Contudo, nas últimas décadas, a imagem de Morrissey passou por uma reviravolta significativa, transformando-o em uma figura altamente controversa e, para muitos, problemática.

A ruptura interna do The Smiths, banda que definiu o cenário indie inglês, foi o primeiro grande golpe na reputação do artista. Em 1987, após Johnny Marr pedir uma pausa das atribuições pesadas que carregava, Morrissey interpretou o movimento como uma deserção, acelerando o fim da banda. As tensões não pararam por aí. Em 1996, Mike Joyce, baterista da banda, venceu um processo milionário contra Morrissey e Marr por royalties, consolidando ressentimentos que permanecem até hoje. Ainda em 2022, Morrissey enviou uma carta pública pedindo a Marr que parasse de mencioná-lo em entrevistas, mostrando que velhas mágoas ainda permaneciam vivas.

Contudo, a maior deterioração da imagem pública do cantor se deu através de suas declarações sobre imigração e raça. Em 2007, Morrissey declarou que a identidade britânica havia “desaparecido” devido à política de portas abertas para imigrantes, atraindo críticas severas e acusações de xenofobia. Em 2010, chamou chineses de “subespécie” por causa do consumo de carne de cachorro, um comentário amplamente condenado.

Seu apoio explícito ao partido ultranacionalista For Britain, em 2018, culminou com a apresentação no programa de Jimmy Fallon em 2019, onde apareceu com um broche do partido. O ato resultou em boicotes e retiradas de suas músicas de locais públicos, forçando até mesmo aliados e colegas a se distanciar publicamente dele.

A militância animal de Morrissey, embora coerente com sua trajetória vegetariana, também passou por controvérsias devido ao tom incendiário adotado. Suas duras críticas ao abate halal chegaram a extremos, como comparar essa prática ao terrorismo, gerando indignação não só na comunidade muçulmana como em defensores moderados dos direitos animais.

Além das polêmicas políticas, Morrissey tornou-se notório pela imprevisibilidade nos palcos, com frequentes cancelamentos por motivos variados, desde problemas de saúde até disputas contratuais. Um exemplo recente foi o cancelamento de seu show em Estocolmo, em junho de 2025, onde culpou o pouco apoio da indústria musical.

Por fim, sua tumultuada relação com gravadoras adicionou mais uma camada de complicação à sua trajetória. Após romper publicamente com a Harvest em 2014 e, posteriormente, com a Capitol, Morrissey se viu cada vez mais isolado no cenário musical. O caso mais emblemático foi o álbum “Bonfire of Teenagers”, que nunca viu a luz do dia por disputas legais.

A trajetória recente de Morrissey mostra uma figura complexa que, apesar de seu legado artístico indiscutível, parece hoje mais conhecida por suas controvérsias do que por suas músicas. Para muitos fãs e críticos, apoiar Morrissey tornou-se um dilema ético. O “grande falastrão” do indie britânico talvez tenha finalmente pago o preço por jamais filtrar palavras ou atos.

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