A música acalma os bichinhos?
1 de dezembro de 2025
Quando a editora de fotografia da BBC, Serenity Strull, decidiu resgatar Margot, uma mestiça de pitbull de três anos, ela sabia que teria trabalho pela frente. Classificada pelo abrigo como tímida e insegura perto de outros cães, Margot logo mostrou sinais mais profundos de ansiedade — especialmente quando ficava sozinha. A situação se agravou quando o Prozac, prescrito para aliviar o quadro, começou a provocar convulsões, obrigando a família a suspender a medicação.
Foi então que uma alternativa inesperada entrou em cena: música. Especificamente, música clássica e composições instrumentais de andamento lento. O resultado? Transformador.
A descoberta de um caminho sonoro para a calma
Strull tentou métodos, treinadores e protocolos diferentes, mas nada funcionava até receber a recomendação de Through a Dog’s Ear, uma série de composições minimalistas, conduzidas predominantemente por piano, criadas pelo psicoacusticista Joshua Leeds e pela neurologista veterinária Susan Wagner. Os dois estudaram o comportamento de mais de 150 cães em casas e canis e observaram reduções significativas em sinais de estresse — de inquietação a respiração acelerada — quando os animais ouviam músicas simples, lentas e sem percussão marcada.
A mudança para Margot foi quase imediata. A câmera de segurança mostrava uma cadela que antes latia sem parar dormindo profundamente ao som de Brahms ou Beethoven. “Houve ocasiões em que cheguei em casa às quatro da manhã e ela estava simplesmente dormindo”, conta Strull.
A experiência pessoal se alinha a uma crescente literatura científica que investiga o efeito da música no bem-estar animal. Pesquisadores da Queen’s University Belfast, por exemplo, concluíram que a música clássica foi a mais eficaz em reduzir estresse agudo em cães, especialmente em contextos como viagens longas e visitas ao veterinário. Músicas lentas, entre 50 e 60 bpm, com arranjos simples e praticamente sem percussão, foram as mais eficientes em diminuir batimentos cardíacos, ritmo respiratório e níveis de cortisol.
E os outros animais? Do ronronar ao trombar — todos parecem reagir
Os efeitos não se restringem a cães. Gatos, por exemplo, mostraram sinais semelhantes quando expostos a peças instrumentais suaves. Em um estudo curioso, 12 gatos sedados para castração ouviram três sons distintos — um pop (“Torn”, de Natalie Imbruglia), música clássica (“Adágio para Cordas”) e rock pesado (“Thunderstruck”, do AC/DC). A clássica foi a única que reduziu indicadores fisiológicos de estresse.
Elefantes e gorilas em zoológicos também apresentaram melhora no bem-estar quando expostos a certas composições. Em diferentes espécies, a lógica parece ser a mesma: menos estresse, melhor sono, mais comportamento saudável.
No entanto, a pesquisa ainda enfrenta limitações. Estudos tendem a ser pequenos, curtos e focados em ambientes naturalmente estressantes, como abrigos e hospitais veterinários. Além disso, “música clássica” é uma categoria ampla, e nem todas as composições produzem os mesmos efeitos.
Essa lacuna abriu caminho para iniciativas como as da musicoterapeuta Janet Marlow, que começou a compor diretamente para a biologia auditiva de cães, gatos e outros animais. Ajustando frequências, harmonias e andamentos para eliminar estímulos que geram agitação, ela criou o catálogo Pet Acoustics, hoje respaldado por pesquisas independentes.
Para tutores, o consenso é simples: não existe fórmula perfeita. Encontrar a trilha sonora ideal para cada animal é um processo de experimentação — mas, quando funciona, o impacto é profundo.
A história de Margot resume a questão com uma clareza quase musical. Às vezes, o remédio está menos em comprimidos e mais em acordes. E, numa casa silenciosa, um piano pode ser tudo o que um coração ansioso precisa para finalmente descansar.