
A vida de Ney Latorraca foi um palco iluminado
31 de março de 2025
Neste sábado, o ator e diretor Edi Botelho, casado por 30 anos com grande ator falecido no ano passado, recebeu homenagem do Festival de Curitiba
Por Sandro Moser
Quando estreou sua primeira peça, Pluft, o Fantasminha, com um grupo de teatro amador em Santos, no começo dos anos 1960, Ney Latorraca ficou encantado com a primeira (de muitas) críticas elogiosas sobre sua atuação em um jornal local.
Na mesma página do diário praieiro, ele leu a notícia de que, após longa temporada, o grande ator Paulo Autran deixaria vago seu papel no espetáculo “Depois da Queda”, que protagonizava ao lado do grande nome do teatro brasileiro de então, Maria Della Costa – atriz, diretora e produtora da peça.
Aos 16 anos, o jovem “Neyla” não teve dúvidas. Recortou a página do periódico e foi para São Paulo falar com a grande dama do teatro paulistano. Conseguiu penetrar no camarim e disse:
“— Oi, eu sou um grande ator de Santos e trouxe aqui o recorte do jornal para comprovar. Estou me colocando à disposição para substituir o Paulo Autran.”
Ela, entre divertida e encantada com a petulância de Latorraca, agradeceu, mas disse que ele ainda era muito jovem para o papel.

Ney, contudo, não se deu por vencido. Antes de sair, escreveu com batom no espelho do camarim: “Ainda serei seu galã.” Anos depois, em 1973, os dois contracenaram numa memorável montagem de “Bodas de Sangue”, dirigida por Antunes Filho.
Uma placa na Sala Ney Latorraca
Essa foi apenas uma das muitas e saborosas histórias contadas pelo ator e escritor Edi Botelho, que recebeu na manhã deste sábado uma homenagem a Ney Latorraca, com quem foi casado desde 1995 até a morte do ator em dezembro de 2024.
Neste ano, a suíte reservada para as entrevistas coletivas do Festival, no Hotel Mabu, foi batizada de Sala de Imprensa Ney Latorraca e a decoração da arquiteta Jordana Fraga inclui uma galeria de fotos de grandes momentos da carreira do ator na televisão e, principalmente, no teatro.
A diretora do Festival Fabíula Passini entregou uma placa a Edi Botelho onde se lia: “O 33º Festival de Curitiba presta homenagem a Ney Latorraca usando o seu nome num espaço dedicado à comunicação e à arte. Sua genialidade, irreverência e paixão pelos palcos marcaram para sempre o teatro brasileiro, deixando um legado que segue atravessando o tempo. Com profunda admiração e respeito do Festival de Curitiba”.
Emocionado, Edi Botelho agradeceu e garantiu que Ney teria “adorado a homenagem”. “Foi tão recente e a gente teve um casamento tão bonito de 30 [anos], numa parceria não só de vida, mas também no teatro. Tá difícil falar, mas vamos lá. Quem coloca o Brasil para cima são os seus artistas e ele adorava este reconhecimento. De onde ele estiver, está vendo a gente e felicíssimo.”