Álbum de Russo Passapusso com Antonio Carlos & Jocafi oscila entre a melodia e o groove afro-brasileiro

23 de novembro de 2022

Por Mauro Ferreira

Resenha de álbum

Título: Alto da maravilha

Artistas: Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi

Edição: Máquina de Louco

Cotação: ★ ★ ★

♪ A audição do álbum de Russo Passapusso com a dupla Antonio Carlos & Jocafi – Alto da maravilha, no mundo digital desde 7 de novembro – soa por vezes como anticlímax para quem tem como referência o luminoso single Mirê mirê, lançado em 22 de agosto com a gravação desse samba pelo trio com a adesão de Gilberto Gil.

Composição de Antonio Carlos & Jocafi, lançada em disco há seis anos pelo cantor Filipe Lorenzo, Mirê mirê (2016) sobressai em repertório que pende na balança, mas deixa saldo positivo.

Calcada na matriz afro-brasileira, mas com o toque contemporâneo dos produtores musicais Curumin, Lucas Martins e Zé Nigro, a sonoridade do álbum Alto da maravilha tem potência no lado A do futuro LP (calcado no groove), mas nem todas as músicas estão à altura dela, como fica claro já na abertura do disco com Aperta o pé, ijexá estilizado com levadas de funk.

Na sequência, Alabá resulta aquém da produção autoral de Antonio Carlos & Jocafi nos anos 1970, década áurea dessa dupla baiana cujo repertório transita pelo samba e as matrizes afro-baianas do Candomblé.

Pitanga se escora no groove, atualizando cadência recorrente no som da dupla, com passagem em que a faixa se banha na praia da ciranda. Veneno surte efeito moderado com a levada evocativa do Nordeste, região por onde navega Vapor de cachoeira.

É o mesmo Nordeste que propaga Forrobodó, tema forrozeiro, mix vivaz de repente, xaxado e ska – influência jamaicana mais evidente na apresentação ao vivo da música no show que estreou em 12 de novembro no festival Radioca em Salvador (BA). Feito e gravado com a adesão de Bule Bule, Forrobodó sobressai na safra autoral composta pelo trio para o disco.

“O álbum Alto da maravilha é a síntese da união musical entre o nosso afrofunk e o afrobeat, com a potente atmosfera ancestral e afrofuturista de Russo Passapusso”, conceitua Antonio Carlos.

Os dois universos se fundem sem deixar de resvalar ora para um lado, ora para outro. Se Tapa tem mais a cara do som de Russo Passapusso, inclusive pelo toque político da letra e pelo peso das guitarras no arranjo, Ponta pólen está mais para Antonio Carlos & Jocafi, ainda que a música tenha nascido de Curumin, parceiro da dupla na composição.

Situada no lado B, mais melódico, Truque sereniza os ânimos e o beat, com evocação de Diacho de dor (1974), samba-canção composto por Antonio Carlos & Jocafi e gravado pela dupla com a cantora Maria Creuza, em clima de bossa nova, no álbum Definitivamente (1974).

De arquitetura mais melódica, Olhar pidão dá sequência à calmaria e se impõe como uma das melhores músicas do álbum, tendo sido gravada por Russo com a adesão de Karina Buhr.

No fecho do disco, há maravilha matricial e sempre contemporânea do repertório inicial da dupla, Catendê (1969), composta por Antonio Carlos a partir de versos do poeta baiano Ildásio Tavares (1940 – 2020) e apresentada em festival pelo grupo Os Caçulas e por Maria Creuza, cantora associada ao repertório da dupla.

Catendê arremata, no canto bonito de Curumin, bom álbum que oscila entre o groove e a melodia.

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