álbuns que foram Destaque em 2022 no G1

26 de dezembro de 2022

Matéria do G1

RETROSPECTIVA 2022 – Embora por vezes ofuscados pelos milhares de singles, EPs e clipes que dominam indústria cada vez mais audiovisual e pautada pela efemeridade de músicas e discos, os álbuns resistem. Há artistas que, mesmo sem abrir mão dos singles, apostam no álbum para agregar músicas e legar uma obra conceitual para a posteridade.

Ao avaliar a produção fonográfica de 2022, o Blog do Mauro Ferreira lista oito álbuns de artistas brasileiros que, na visão do crítico e colunista do g1, mereceram o status de obra-prima pela excelência do repertório, dos arranjos e/ou do canto.

♪ Eis, na ordem alfabética dos títulos, os álbuns eleitos pelo Blog do Mauro Ferreira como destaques deste ano de 2022:

1. Cássia Eller & Victor Biglione in blues – Cássia Eller e Victor Biglione

♪ Gravado entre 1991 e 1992, mas arquivado por 30 anos por razões ainda controversas, o álbum de blues de Cássia Eller (1962 – 2001) com o guitarrista Victor Biglione chegou enfim ao mundo em 10 de dezembro de 2022, dia do 60º aniversário da cantora. Entre a maciez da balada When sunny gets blues (Marvin Fischer e Jack Segal, 1956) e a intensidade de Same old blues (Don Nix, 1969), o canto de Cássia Eller ressoou imortal em disco de caráter atemporal e de alto valor documental.

2. Lady Leste – Gloria Groove

♪ A expectativa já era grande quando a cantora lançou o segundo álbum em 10 de fevereiro, mas Lady Leste superou todos os prognósticos positivos sinalizados em 2021 pelos singles BonekinhaA queda e Leilão. Dentre o repertório inédito, o funk Vermelho (Gloria Groove, Pablo Bispo, Ruxell e MC Daleste, 2022) foi a cor mais quente de álbum que esbanjou coesão ao longo de 13 músicas que foram do funk ao pop de arena, passando por pagode, rap e reggaeton. Lady Leste se tornou um clássico instantâneo do pop brasileiro.

3. Mil coisas invisíveis – Tim Bernardes

♪ Compositor mais inspirado da geração projetada nos anos 2010, Tim Bernardes apresentou um segundo álbum tão iluminado quanto o primeiro, Recomeçar (2017). Precedido por quatro singles editados a partir de 3 de maio, o álbum Mil coisas invisíveis foi lançado em 14 de junho e manteve o artista paulistano elevado no panteão da música brasileira do século XXI pela excelência do cancioneiro autoral desse artista que, além de grande compositor, canta com alma e ainda toca vários instrumentos.

4. Moacir de todos os Santos – Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz

♪ Lançado em 19 de maio, o álbum soou como atestado póstumo da genialidade do maestro, arranjador, percussionista e saxofonista baiano Letieres Leite (1959 – 2021), morto no ano passado. Ao abordar sete dos dez temas do álbum Coisas (1965), de Moacir Santos (1926 – 2006), Letieres pôs o dendê da orquestra afro-baiana de Salvador (BA) na obra-prima da discografia do compositor, saxofonista, arranjador e maestro pernambucano.

5. O que meus calos dizem sobre mim – Alaíde Costa

♪ Álbum idealizado e produzido por Marcus Preto com Emicida, com o intuito de celebrar a nobreza do canto de Alaíde Costa, O que meus calos dizem sobre mim confirmou as altas expectativas ao ser lançado em 19 de maio. Em oito músicas gravadas sob direção musical de Pupillo Oliveira, sendo sete inéditas, a cantora fez valer a personalidade forte ao mesmo tempo em que espalhou sementes pelo caminho. O mérito deve ser repartido com Marcus Preto, que articulou parcerias e amealhou o belo repertório fornecido por Erasmo Carlos (1941– 2022), Fátima Guedes, Guilherme Arantes, Ivan Lins, Joyce Moreno, Nando Reis e Tim Bernardes, além de Emicida, autor de duas letras.

6. Orquestra Petrobras Sinfônica Nando Reis – Nando Reis e Orquestra Petrobras Sinfônica sob regência de Isaac Karabtchevsky

♪ Ao ser enquadrado na moldura sinfônica da orquestra da Petrobras, o cancioneiro autoral de Nando Reis teve a grandiosidade exposta neste álbum gravado no começo de 2019 e lançado três anos depois, em 25 de fevereiro de 2022. A maestria da regência do maestro Isaac Karabtchevsky, à frente da sinfônica da Petrobras, contribuiu para a perfeição deste disco situado na sempre tênue fronteira entre a música dita erudita e a música popular, terreno do compositor paulistano.

7. Senhora das folhas – Áurea Martins

– Cantora até então identificada com o universo noturno do samba-canção, a carioca Áurea Martins pisou firme em terreno sagrado para celebrar o canto das rezadeiras, benzedeiras e curandeiras do Brasil em álbum emocionante idealizado por Renata Grecco e gravado sob a direção musical do violoncelista Lui Coimbra. Senhora das folhas mostrou que a fé está em todo o canto, inclusive no rap de Projota, cujo tema A rezadeira (2014) sobressaiu no disco no canto fluente de Moyseis Marques, solista da faixa pontuada por intervenções da voz de Áurea Martins.

8. Ubuntu – Leila Maria

– A cantora carioca djavaneou o jazz das Alagoas com acento africano em álbum surpreendente. Em Ubuntu, Leila Maria cantou Djavan sob a perspectiva histórica da diáspora africana, com produção musical de Guilherme Kastrup. Se o samba Aquele um (Djavan e Aldir Blanc, 1980) foi reinventado em cadência evocativa do zouk e da rumba congolesa, em arranjo que também ecoou a juju music, Seca (1996) revolveu o solo de um Brasil injusto com direito à aridez de versos recitados por Maria Bethânia. Exímia cantora, Leila Maria se afinou com Vocal Kuimba, coral paulista formado por jovens angolanos, no canto sedutor de Meu bem querer (1980). Obra-prima!

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