Como Post Malone, headliner do The Town, se tornou o rapper favorito da geração Z?
23 de agosto de 2023
Matéria: Portal G1
Post Malone é o único rapper entre as atrações principais do The Town. Ele fecha o primeiro dia do festival paulistano, em 2 de setembro. Esse feito se deve a um rap mais melódico, misturado a rock e pop, com letras sobre relacionamentos, fama e recalques.
Austin Richard Post, nome real do cantor americano de 28 anos, é um dos novos nomes do rap que mais agrada os novinhos da geração Z, formada pelos nascidos de 95 a 2010.
No Rock in Rio de 2022, talvez tenha sido a atração internacional mais carismática. Conversou com o público, chamou fã para tocar violão, vestiu camisa do Flamengo e até levou um tombo, mostrando que é gente como a gente.
O show no The Town deve ser na mesma pegada solta e despretensiosa. As novidades são as músicas do álbum mais recente, “Austin”. O disco tem uma sonoridade ainda mais perto do pop rock, com arranjos um pouco mais melancólicos do que os dos trabalhos anteriores.
Mas também vão entrar, claro, as músicas mais antigas que deram fama ao Post, como “Sunflower”, trilha sonora da animação “Homem-Aranha: No Aranhaverso” (2018).
No Rock in Rio 2022, Post Malone não precisou de quase nada para segurar o público. Uma bebida e um cigarro em uma das mãos, o microfone na outra. Só isso já foi o bastante para o cantor americano causar histeria numa plateia com muitos nascidos pós-anos 2000.
Em cerca de uma hora e meia de show, fez o público cantar debaixo de muita chuva, de olhinhos fechados, hits como “Circles”, do álbum “Hollywood’s Bleeding” (2019). Também apareceram músicas de seu álbum mais recente, “Twelve Carat Toothache” (2022), como “Wrapped around your finger”.
No palco, conversou com o público sobre suas músicas, acendeu um cigarro atrás do outro e fez dancinhas esquisitas. Parecia um velho amigo numa visita em casa.
Depois, num trecho acústico do setlist, chamou um fã ao palco para tocar violão em “Stay”, como tem feito em seus últimos shows. Era o cantor Theo Kant, de Niterói (RJ), que estava com um cartaz pedindo para ser músico de apoio do rapper.
Já em “Rockstar”, quebrou o mesmo violão. Mais um truque antigo. Tudo no show do rapper se encaixa para que ele mantenha a fama de gente boa, humildão. O objetivo foi cumprido.
Discursos parecidos foram ouvidos no Lollapalooza, em São Paulo, em 2019. Na estreia por aqui, Post convidou o MC carioca Kevin O Chris, que cantou “Vamos pra Gaiola” e “Ela é do tipo”.
Ele também curta fazer piadas depreciativas, com uma às vezes dita durante o set acústico: “Se tiver alguém precisando fazer xixi, essa é a hora, porque é a parte mais chata do show.”
‘Eu sou gordo demais’
Quando ainda não era atração principal de festivais, em 2018, Post cantou em um dos palcos menores do festival americano Coachella, em show visto pelo g1. Cada fala recalcada foi celebrada por jovens, na maioria brancos, derrubando mais cerveja do que em qualquer outro show do concorrido festival californiano.
“Estou muito bêbado”, avisou depois. No final, reclamou dos críticos que já o rotularam de “one-hit wonder” e de ter escolhido o hip hop só porque ele está “na moda”. Jornalistas dos sites Pitchfork e All Music, das revistas “NME” e “Rolling Stone” e do jornal “The Guardian” detonaram: tudo em Post seria forçado além da conta.
Do country e do ‘Minecraft’ ao rap rock
O rapper (“não sou rapper, sou artista”, sempre corrige)… O artista queria ser cantor de country aos 10 anos. Teve banda cover de metal na adolescência e foi youtuber de “Minecraft” antes de botar seu gogó a serviço do hip hop.
Com a mesma voz rouca e cansada, anunciou pedidos de frango frito na Chicken Express, uma rede de fast food texana. “Eu só trabalhei lá porque queria juntar US$ 800 para comprar uns sapatos da Versace”, explicou.
Austin nasceu em Syracuse, no estado de Nova York, e passou a infância em Dallas. De lá, mudou-se para Los Angeles, onde viveu em uma casa de youtubers.
Mas de onde vem o nome Post Malone? A alcunha surgiu a partir de um gerador de nomes de rappers. Após criar seu apelido, juntou-se a produtores de Los Angeles e gravou “White Iverson”, lançada em 4 de fevereiro de 2015.
Post chamou atenção por dizer que era “a versão branca” de Allen Iverson, craque da NBA. Ganhou elogio de Wiz Khalifa e viralizou no SoundCloud. Foi com essa auto-homenagem que conseguiu dividir palcos e músicas com Justin Bieber (“Déjà Vu”) e Pharrel Williams (“Up There”).
Desde os tempos em que gastava seus dedos com “Guitar Hero 2”, Post manteve uma relação com o rock. O álbum “Hollywood’s Bleeding”, de 2019, tem um som indie rock eletrônico levemente pesado, participação de Ozzy Osbourne e alguns arranjos que remetem aos Strokes.
Há ainda uma pose de roqueiro que não se importa com aparências. “No Halloween, os fãs se vestem como eu. É fácil: é só se vestir como uma pessoa que mora na rua”.
Bon Scott, do AC/DC, e Jim Morrison, do The Doors, são citados em “Rockstar”. Tommy Lee, do Mötley Crüe, é um dos compositores de “Over Now”.
Há também as covers roqueiras já tocadas por ele. O site TMZ divulgou vídeos de Post cantando Elvis, caindo de bêbado, em Nashville. Depois, foi visto tocando violão e berrando “Don’t look back in anger”, em clima de “Volta Oasis”. Em 2020, fez uma live tocando apenas Nirvana.
Hoje, em vez de “Guitar Hero”, prefere “Call of Duty”. Afinal, ele tem uma grande coleção de armas: guardava uma debaixo (!) de cada (!!) travesseiro de sua cama. São vários.
Quando a revista “Rolling Stone” visitou a casa dele, também encontrou pouco glamour: os quartos estavam cheios de latas de cervejas amassadas.