Em passagem pelo Brasil, Interpol eleva pós-punk a estado de arte
10 de junho de 2024
Por Carlos Eduardo Oliveira
Anos atrás, em Los Angeles, do dia para a noite a cidade amanheceu literalmente “coberta de Interpol”: pra todo canto que se olhava eram cartazes, banners, outdoors, lambe-lambes. Corria 2014 e a estratégia de lançamento de El Pintor era um atestado do tamanho dos nova-iorquinos no jogo.
Ainda assim, me incomodava certa postura blasé, distante, da banda, para com o público – ao menos, como brasileiro –, entrando em cena muda e saindo calada, como se viu por aqui. Mas isso parece ter mudado. Pra melhor.
Porque, foram o que? Uns dez minutos da versão extendida de “Specialist”, a primeira do set, para derramar ainda mais gasolina na já abrasiva Áudio, em São Paulo, e deixar claro ao longo das próximos 29 canções que, sim, o pós-punk vive, passa bem e ainda tem lugar de destaque na voraz cadeia evolutiva do rock.
O púbico, claro, sabe disso: às toneladas de camisetas da nave-mãe Joy Division, juntavam-se as do próprio Interpol, esgotadas no quiosque de merchandising montado na Áudio.
No primeiro ato, Turn On the Bright Lights seria executado na íntegra; idem para o clássico Antics, que ocupou a segunda metade do show – o tour é uma homenagem aos dois primeiros e brilhantes discos da banda.
Em cena, o som do grupo navega através de densas camadas de guitarras que não raro remetem ao space rock, temperado por um baixo “agudo” mais ou mesmo como o de Simon “The Cure” Gallup. Uma grande viagem.
Ao longo do show, o capo Paul Banks, cantor/guitarrista, buscou interagir com o público aqui e ali. Fora do palco, dizem, foi gente boa com fãs que encontrou pela cidade.
Menos de cinco minutos de intervalo e vem a execução de Antics em sua ordem “biológica”, faixa a faixa. E os hits, “Slow Hands”, “Evil”, “C’mere”, “Narc”. Uma jornada sonora quase lisérgica, encorpada pela iluminação minimalista tendendo a tons escuros e, por vezes, potentes holofotes pulsando no sentido palco-plateia – Turn On the Bright Lights, afinal!
No mais, ponto para a curadoria da produtora Move Concerts: fora de festivais, essa é a fórmula ideal para show indie de grupos como o Interpol, duas, três mil pessoas, the tops. De preferência sem telão.