
Francisco Cuoco: o galã que ensinou gerações a interpretar com alma e música
20 de junho de 2025
Ator morreu aos 91 anos, deixando um legado que vai do teatro à música, da televisão ao cinema. Cuoco será velado em São Paulo nesta sexta-feira (20).
Francisco Cuoco, um dos nomes mais marcantes da história da teledramaturgia brasileira, morreu nesta quinta-feira (19), aos 91 anos, em São Paulo. O ator partiu de forma serena, segundo informou a família, e será velado nesta sexta (20), em cerimônia aberta ao público, no Funeral Home, das 7h às 15h. O enterro será reservado à família, às 16h.
Com mais de seis décadas de carreira, Cuoco encarnou o arquétipo do galã viril e apaixonado nas telas, mas foi muito além disso: teatro, cinema, televisão e até disco. Sua trajetória é daquelas que espelham não só a evolução da dramaturgia no país, mas também o desejo de se reinventar artisticamente, mesmo depois da fama consolidada.
Nascido em 29 de novembro de 1933, no Brás, em São Paulo, Cuoco começou cursando Direito, mas acabou seduzido pela arte. Entrou para a Escola de Arte Dramática aos 20 anos e não demorou a integrar nomes de peso como o Teatro Brasileiro de Comédia e o Teatro dos Sete, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto.
Estreou na televisão no “Grande Teatro Tupi” e foi protagonista de sucessos como Redenção (1966), na TV Excelsior, e O Salvador da Pátria (1989), na Globo. Seu primeiro papel na emissora carioca veio em 1970, na novela Assim na Terra Como no Céu, de Dias Gomes.
Com uma atuação sempre centrada na inteligência cênica, Cuoco dizia que preferia ser engolido pelo personagem a deixar transparecer o Francisco real. “É importante que os personagens tenham vida própria… Eu prefiro que o personagem sufoque o Francisco”, declarou ao Memória Globo, em tom de compromisso com a arte.
Francisco Cuoco e sua breve, mas curiosa incursão na música brasileira
Muito antes de virarmos especialistas em nostalgia digital, o galã Francisco Cuoco já explorava outras formas de eternizar sua voz. Nos anos 1970, quando a televisão brasileira era motor de popularidade nacional, era comum que atores em alta se aventurassem no mundo da música. Cuoco foi um deles — e sua discografia, ainda que discreta, guarda detalhes curiosos.
A estreia aconteceu em 1970, com um single lançado pela RCA Victor que trazia uma dobradinha inusitada: o clássico natalino White Christmas, de Irving Berlin, e Amiga, composição de Roberto Menescal e Paulinho Tapajós. Mas foi em 1975, no auge de sua fama como protagonista de novelas, que ele lançou seu único álbum completo, batizado apenas com seu nome: Francisco Cuoco.
O LP não trazia Cuoco cantando, e sim recitando letras sobre bases instrumentais, numa mistura de spoken word e trilha sentimental que hoje parece vanguarda. A seleção incluía Momentos Inesquecíveis, uma música inédita da dupla Roberto e Erasmo Carlos. As adaptações ficaram por conta de Helio Matheus e Odair José.
O disco ainda rendeu dois EPs em 1976, e um single extra em 1977: Duas Vidas, inspirado na novela homônima de Janete Clair em que Cuoco contracenava com Betty Faria. Assim, sua voz — tão marcante nas cenas de TV — também ficou gravada em vinil, eternizada como parte de um Brasil onde a teledramaturgia e a música popular andavam lado a lado.