GLENN HUGHES, UM ETERNO PURPLE
16 de novembro de 2023
Apresentação demolidora do ex-baixista e cantor do Deep Purple contou até com canja do amigo Chad Smith, dos Chili Peppers
Por Carlos Eduardo Oliveira
“Não costumo comentar isso com muita frequência, mas sou talvez o único e acho que o último no mundo, cantando essas canções”.
O desabafo veio no meio do show, com o público já de queixo caído. Em noite de grandiloquência de Rogers Waters na cidade, o ex-baixista e vocalista do Deep Puple transformou a paulistana VIP Station, lotadíssima, em templo do rock-raiz – espécie de filial do Whisky a Go Go, lendário nightclub de rock de Los Angeles.
Tanto que o amigão Chad Smith – ele mesmo, o Chili Pepper –, “que tocou em cinco dos meus discos”, fez questão de passar por lá e dar uma canja na bateria para os dois hinos do bis: “Highway Star” e a atômica “Burn”.
Aliás, Hughes é não só o único a cantar o repertório da fenomenal fase MK3 do Purple – mas também o único cantor ou ex-cantor da banda ainda “com voz”: na ativa com o DP, Ian Gillan há tempos anda mal de registro vocal; idem para David “Whitesnake” Coverdale, que já cogita até se aposentar, por conta dos mesmos problemas.
Não foi apenas uma jornada de mero saudosismo. Em plena forma física, e cantando muito – por vezes, até exagerando um pouco em seus conhecidos agudos –, Hughes entregou uma apresentação de primeiríssima.
Enquanto o show durou 1:50 hs, o setlist teve apenas nove músicas. Nem precisava mais. Hughes abriu “maltratando corações” com “Stormbringer” e “Might Just Take Your Life Life”. Passeou não só pelos álbuns Stormbringer e Burn, este motivo da celebração e da turnê, mas também por Come Taste The Band (1975) com as maravilhosas “Gettin Tighter” e – momento tocante, com a galera cantando a letra inteira – “You Keep On Moving”, a qual declarou nunca deixar fora dos shows desde que o amigo e ex-guitarrista do Purple, Tommy Bolin (1951-1976), morreu.
Extraída de Burn, “You Fool No One” veio em versão arrasa-quarteirão de mais de 20 minutos, com extratos de “High Ball Shooter” e “The Mule”. E o que dizer de “Mistreated”, com iguais vinte e poucos minutos de blues rock demolidor?
A lamentar apenas o cancelamento em Curitiba (por motivos de saúde do músico) – mas o bardo volta em breve. “Amo vocês. Tem um novo álbum vindo aí e logo estou de volta. Prometo”.