
Locutores continuam indispensáveis na era da inteligência artificial: o que o futuro reserva ao rádio?
16 de outubro de 2025
Com o avanço da inteligência artificial, o rádio vive um dos debates mais intensos de sua história recente: qual será o papel dos comunicadores humanos em um cenário onde vozes geradas por algoritmos se tornam cada vez mais realistas e acessíveis?
O assunto ganhou força após o caso do jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews FM, que, durante licença médica, manteve seus comentários no ar com gravações geradas por IA a partir da própria voz. O episódio, que soou futurista para alguns e preocupante para outros, trouxe à tona uma questão essencial: a voz humana ainda é insubstituível?
O que os ouvintes realmente valorizam
De acordo com o relatório Techsurvey 2025, realizado entre janeiro e fevereiro deste ano no Canadá e nos Estados Unidos, locutores, DJs e programas seguem como os principais motivos para ouvir rádio — superando inclusive a música. Enquanto 61% dos entrevistados afirmaram que a sintonia se deve aos talentos do rádio, apenas 56% mencionaram suas músicas ou artistas favoritos como principal razão.
Esse padrão se repete desde 2019, quando as personalidades ultrapassaram a música como fator determinante na escolha das emissoras. E a tendência se reforça entre o público mais jovem: 64% dos ouvintes da geração Z e dos millennials afirmam desejar maior interação com seus apresentadores, seja em eventos, redes sociais ou na comunidade local.
Em um mundo cada vez mais automatizado, o diferencial do rádio continua sendo a conexão humana. O público não busca apenas uma voz agradável ou uma leitura precisa de texto — busca companhia, empatia e autenticidade.
O papel humano vai além da locução
O avanço da IA é inevitável e, em muitos casos, benéfico. Ferramentas de automação, geração de conteúdo e análise de audiência otimizam processos e reduzem custos. Mas, justamente por isso, os comunicadores que se destacam por personalidade, criatividade e vínculo emocional com o público tornam-se ainda mais valiosos.
Rádios que apostam em vozes humanas fortalecem um diferencial que a tecnologia ainda não reproduz: o improviso e a emoção genuína. É a reação espontânea a uma notícia de última hora, o humor natural, o sotaque que identifica uma região ou o desabafo que toca quem ouve. São esses momentos — não roteirizados nem previsíveis — que constroem confiança e pertencimento.
Além da dimensão afetiva, há também o peso comercial. Marcas continuam buscando comunicadores que emprestem credibilidade e influência às campanhas. No mercado publicitário, a associação com vozes humanas cria identificação e gera resultados mensuráveis — algo que uma voz sintética, por mais convincente que seja, ainda não consegue entregar.
Muitos locutores também atuam como parceiros comerciais diretos, mantendo carteiras de clientes e colaborando ativamente para o faturamento das emissoras. Sua relevância, portanto, não é apenas simbólica: é também estrutural para o negócio do rádio.
Em um cenário de assistentes virtuais e playlists automáticas, a presença de um comunicador que entende o público, reage ao vivo e compartilha experiências continua sendo o que mantém o rádio vivo, próximo e relevante. Quanto mais a inteligência artificial evolui, mais essencial se torna o toque humano — aquele que nenhuma linha de código é capaz de replicar.