Morre Jimmy Cliff, aos 81 anos: a voz que levou o reggae ao mundo e construiu um laço eterno com o Brasil
24 de novembro de 2025
Jimmy Cliff, um dos nomes mais importantes da história do reggae, morreu aos 81 anos. A informação foi confirmada por sua esposa, Latifa, em um comunicado divulgado à imprensa. Segundo ela, o artista sofreu uma convulsão seguida de pneumonia. A família pediu privacidade e informou que novos detalhes serão divulgados posteriormente. “Jimmy, meu querido, que você descanse em paz. Vou seguir seus desejos. Espero que todos possam respeitar nossa privacidade nesses tempos difíceis”, escreveu Latifa, ao lado de Lilty e Aken.
A partida de Cliff encerra uma trajetória que ultrapassou fronteiras, ajudando a transformar o reggae em um fenômeno global. Antes mesmo de Bob Marley se tornar um símbolo planetário, Cliff já abria caminhos com sua voz luminosa, seu carisma único e sua sensibilidade política e espiritual. Ele ganhou dois Grammys — por Cliff Hanger (1985) e Rebirth (2012) — e foi um dos únicos jamaicanos incluídos no Rock and Roll Hall of Fame, ao lado de Marley. Sua importância cultural, porém, vai muito além da música: Cliff se tornou uma referência estética, social e histórica, responsável por introduzir milhões de pessoas ao universo da Jamaica.
A ponte entre Jamaica e Brasil — e a trilha sonora de uma geração
Jimmy Cliff sempre teve uma relação especial com o Brasil, como lembrou o jornalista Arthur Dapieve. Antes de estourar no cenário internacional, ele morou no país nos anos 1960, aproximou-se da música brasileira, excursionou com Gilberto Gil e até gravou com a banda Cidade Negra. Suas canções entraram em novelas, ficaram marcadas na memória afetiva de milhões de brasileiros e ajudaram a moldar o imaginário pop sobre o reggae.
Em 1980, ele e Gil protagonizaram uma das turnês mais marcantes da década, passando por Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, sempre com estádios lotados. No mesmo ano, dividiram o especial “Gilberto Passos Gil Moreira e James Chambers”, gravado no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, em um formato que misturava show ao vivo e experiência televisiva. Clássicos de ambos os repertórios se cruzaram, culminando em uma versão emocionada de “No Woman, No Cry”, cantada em coro por artistas e público.
Cliff também brilhou no cinema, protagonizando o cultuado The Harder They Come (1972), filme que ajudou a projetar a cultura jamaicana no mundo e apresentou sucessos como “The Harder They Come”, “You Can Get It If You Really Want” e “Wonderful World, Beautiful People”, além da imortal “I Can See Clearly Now”.
Sua morte marca o fim de uma era, mas sua música permanece como documento vivo de alegria, resistência e espiritualidade — um legado que influenciou o reggae, o pop, o rock, a música latina e a brasileira, conectando culturas de formas que poucos artistas conseguiram.
Jimmy Cliff sai de cena como entrou: iluminando. E continua cantando em cada voz que descobriu o reggae através dele.