ROD STEWART + IVETE SANGALO: A POEIRA SUBIU
3 de outubro de 2023
Allianz Park recebeu histórica primeira edição da plataforma Legends in Concert
Por Carlos Eduardo Oliveira
Foi histórico. Já no gran finale, o anfitrião da noite avisa:
– “Chegou a hora de recebermos Ivete Sangalo”, sendo que o nome da baiana veio cheio de sotaque.
E a moça mandou bem. De pretinho básico (certamente, “sugestão” da produção de Rod Stewart), ambos dividiram o vocal do hit “Do Ya Think I’m Sexy” com Ivete em inglês convincente. Ainda sim, a versão soou meio gélida.
Já no megahit “Sailing”, a derradeira da noite, a história foi outra. “Estou sonhando? Estamos mesmo juntos aqui?”, brincou Sangalo, aos primeiros acordes da conhecidíssima balada. “Yes baby”, devolveu o inglês (de ascendência escocesa). E ambos comungaram uma versão pungente da canção, com a cantora visivelmente emocionada.
(Nesse interim deu tempo até de Ivete bicar o uísque “caubói” do cantor e fazer uma careta, ao que Stewart riu).
Foi uma grande noite no Allianz Park lotado, em São Paulo. O que parecia um mix heterogêneo virou um golaço da curadoria acertada da produtora Move Concerts.
Ivete abriu a festa a mil. “Queimou” todos os seus hits já nas primeiras músicas e literalmente “levantou poeira”, com o estádio todo de pé. Na ótima banda, destaque para o naipe de sopros e as estilingadas do baixista, “meu amigo, o aniversariante do dia, Gigi Cerqueira”, festejou a cantora.
Mesmo descarregando os hits logo de saída, Sangalo segurou até o final um show irresistível, de converter o mais xiita fã de heavy metal. Um arraso, temperado com condução de público impecável, recheada de tiradas espirituosas e bem humoradas – sobrou até, mais de uma vez, pra Rod Stewart, “que quando viu, não resistiu ao mulherão aqui”, brincou.
“Eu e Rod, Rod e eu”, brincava.
(intertítulo) Em cena, Mr. Cool
Jagger, Mercury, Bono… todos eles teriam, ou têm, duas ou três coisas “de palco” a aprender com o longevo ex-cantor do The Faces, 78 anos. “E ainda tenho cabelo”, zombou.
Leveza, timing, carisma do tamanho do estádio… sem falar na destreza que o faz o “rei do pedestal”, no trato cênico com o suporte do microfone. Há ainda as bolas de futebol chutadas de primeira para a plateia (no passado o cantor fazia “embaixadinhas” com a “redonda”). E a velha voz rouca, felizmente, continua intacta.
Futebol, aliás, é uma paixão: em “You’re In My Heart”, enquanto a galera brada o refrão, o escudo do Celtic aparece gigante nos telões – aliás, havia vários homens e mulheres com a camisa do time escocês no show –, e dizem até que o cantor pretende ser enterrado no estádio do clube do coração, quando passar dessa para melhor.
O generoso setlist visitou praticamente todas as fases de sua carreira, com a grata surpresa do tempero de música folk escocesa em algumas das canções, com instrumentos executados não pela banda, mas pelo naipe de seis belas vocalistas e instrumentistas de apoio em trajes provocantes.
Dentre as várias trocas de figurinos, destaque para o belo terno azul-amarelo com que Stewart reverenciou as cores da Ucrânia e seu líder Vladimir Zelenski, detonado o vilão Putin. Isso em “Rhythm of My Heart”. Couberam ainda homenagens a amigas cantoras recentemente falecidas, Tina Turner e Cristine McVie (do Fleetwood Mac)
Com o turbilhão de hits – “Young Turks”, “Baby Jane”, “Maggie May”, a bela “Ooh La La”, do The Faces, soou curioso o público berrando a letra inteira de “I Don’t Want Talk About It”, o volume mais alto da noite.
A dobradinha Rod + Ivete fez o público sair de alma lavada – literalmente, já que nem a inclemente chuva estragou a memorável noite. Mais edições do Legends in Concerts devem vir por aí, e não será surpresa se migrando também a outras capitais.