
SIMPLE MINDS: MUITO ALÉM DOS ANOS 80
6 de maio de 2025
Com bagagem repleta de hits, atual turnê da banda é experiência sensorial
Por Carlos Eduardo Oliveira
Aos primeiros acordes do megahit “Don’t You Forget About Me”, um mar de celulares emergiu, praticamente impedindo a visão do palco. Mas ninguém se importava. Àquela altura, o ótimo público que lotou o Espaço Unimed na noite de domingo em São Paulo já estava em êxtase.
Até então, o que a banda do veterano compositor e vocalista escocês Jim Kerr apresentara transcendeu expectativas: um espetáculo maiúsculo, vibrante, envolvente, e (no melhor dos sentidos) tão alto em volume de som que não faria feio no festival de heavy metal que acontecia não muito longe dali.
O Simple Minds versão 2025 passa longe de mero revival das paradas de sucesso oitentistas – e olha que hit é o que não falta no catálogo. Ao longo das quase duas horas de apresentação, a proposta repassa vários diferente estágios da longa carreira a bordo de um synth-pop (gênero que o grupo ajudou a definir) atmosférico, etéreo, próximo ao rock progressivo de fina estampa. Costurando tudo, uma produção de palco grandiosa, da primeira prateleira do showbusiness.
A coesão musical vem do excelente time de músicos em cena, com destaque para duas mulheres: a baterista Cherisse Osei, que dita o ritmo com direito a solo de bateria até simples, mas que mesmeriza o público; e a cantora Sarah Brown, diva de ébano de voz maravilhosa que não apenas executa cantos de apoio, mas protagoniza com Kerr os vocais principais em vários momentos, além de co-estrelar com o “patrão” a frente do palco.
Jim Kerr, por sua vez, canta melhor no que nunca, do alto dos atuais 65 anos. A “liga” para todos esses elementos, entretanto, emana das seis cordas do guitarrista e co-fundador Charles Burchill, eterno escudeiro do cantor. À semelhança do que acontece com The Edge no U2, as camadas sonoras de suas guitarras Gretsch contaminam cada centímetro quadrado da venue, dando ambientação e “cola”, à música do grupo.
O bis veio com “Dolphins” e a obvia trilogia, não por isso menos matadora: “Someone Somewhere”, “Alive and Kicking” e “Sanctify Yourself”. O toque final de bom gosto: luzes acesas, e a banda retribui o carinho dos fãs ao som de David Bowie (“Heroes”) e Beach Boys (“God Only Knows”), coroando a festa.