SISTERS OF MERCY NO BRASIL: O PÓS-PUNK VIVE E PASSA BEM

1 de outubro de 2025

Por Carlos Eduardo Oliveira

Em algum lugar dos anos 1980, o pós-punk surgiu como a próxima-grande-coisa do rock. E era.

Sobreviveria ao severo teste do tempo do rock’n’roll? Em cena, o Sisters of Mercy prova que sim. Mesmo que você olhe para o palco e constate que o lugar onde deveria haver uma bateria, está vago. E mesmo com apenas três álbuns lançados nesse tempo todo.

A apresentação única no Brasil teve a assinatura da produtora Top Link Music, do empresário Paulo Baron – mais do que apenas businessman, um rock’n’roller apaixonado.

O público fiel que lotou o Tokio Marine Hall em São Paulo embebeu-se de uma banda veterana que não teme abrir mão de faixas conhecidas (do clássico First and Last and Always, de 1985, por exemplo) para explorar novos territórios, por vezes enveredando em versões – licença poética – pós-punk “progressivas”, em alguns registros (a balada lúgubre “Marian”, a onírica “I Will Cal You”).  

A iluminação em tons sóbrios a partir do fundo do palco dá um quê de expressionista à performance. Qual um Nosferatu, o cantor/compositor Andrew Eldritch, do alto de seu registro vocal soturno, move-se de um lado a outro e encontra ótimos momentos ao duelar a duas vozes com o backing vocal mais agudo do guitarrista Ben Christo – este, agita o público continuamente. E assina alguns solos – sim, solos – em suas seis cordas. Algo não tão comum ao pós-punk.

Mais do que performances catárticas, dignas de serem berradas a plenos pulmões em clima litúrgico, o S.O.M. brinda seu público com uma viagem sonora quase lisérgica, por vezes apenas contemplativa, com o compasso estabelecido à metrônomo por Doktor Avalanche, a bateria eletrônica pulsante característica do som da banda.  “Vocês estão a fim de dançar”?, provocou Eldritch, no bis, em sua única inteiração da noite. Seguiram-se “Neverland”, “Lucretia My Reflection” e “This Corrosion”, agora sim, em astral de transe coletivo,  

Noves fora, também não é difícil identificar no Sisters of Mercy os eflúvios que movem (vários) atos como Rammstein e congêneres.