“The Wall”: O Álbum Que Partiu o Pink Floyd ao Meio

5 de fevereiro de 2025

O Pink Floyd nunca foi uma banda de consensos. Cada disco marcante do grupo veio acompanhado de disputas criativas, tensões nos bastidores e uma visão artística que, muitas vezes, se tornava maior do que os próprios integrantes. Mas se tem um álbum que elevou isso ao extremo, foi The Wall (1979). Mais do que um dos maiores álbuns conceituais da história do rock, ele é o ponto de ruptura definitivo entre Roger Waters e seus ex-colegas de banda – especialmente David Gilmour.

A ideia nasceu da mente inquieta de Waters, que, àquela altura, já dominava a direção criativa do Pink Floyd. O conceito de The Wall é quase uma autobiografia musical: um artista desiludido, cercado por traumas da infância, perda da mãe, repressão escolar, guerra e alienação. O “muro” do título simboliza a desconexão emocional, algo que Waters sentia não apenas na sua vida pessoal, mas também no relacionamento com o público e os próprios membros da banda.

Mas se a visão era dele, a sonoridade não teria o mesmo impacto sem as guitarras etéreas e os solos inconfundíveis de David Gilmour. E é aí que as coisas se complicam.

A tensão entre os dois já existia há anos, mas chegou ao ápice com The Wall. Embora Gilmour tenha contribuído significativamente para músicas como Comfortably Numb e Run Like Hell, Waters sempre deixou claro que considerava o disco uma obra essencialmente sua. O problema veio depois, quando a banda seguiu tocando o álbum sem ele.

Em entrevista à Rolling Stone em 1990, Waters foi direto ao ponto:

“Eu reconheço que parte do trabalho veio de Dave. Mas o fato de ele se importar tão pouco com os sentimentos contidos no disco torna impossível para mim convidá-lo para o show de Berlim. Ele tem se apresentado em estádios tocando minha obra, em total oposição às minhas emoções, ideias e filosofias, para seu próprio lucro. E isso é algo que eu não consigo perdoar.”

Ou seja, para Waters, Gilmour estava lucrando em cima de um disco extremamente pessoal, sem levar em conta o peso emocional das músicas.

A relação entre eles já era um inferno na época da turnê de The Wall (1980-1981). Em entrevista à Billboard em 2014, Waters descreveu os bastidores como “um pesadelo”, reforçando que, apesar da participação de Gilmour e do produtor Bob Ezrin, a essência do álbum era exclusivamente sua.

O Outro Lado da História

Gilmour nunca negou que The Wall era uma visão de Waters, mas isso não significa que ele tenha engolido a narrativa do ex-colega sem rebater. Em 1993, em entrevista à Guitar World, o guitarrista fez questão de expor seu ponto de vista:

“Gostei da história criada por Roger. Embora eu não concorde totalmente com ela, você tem que deixar um sujeito ter sua opinião. Eu apenas tinha uma visão diferente de nosso relacionamento com nosso público. Roger não gostava de fazer turnês. Sentia que não havia conexão entre ele e a plateia que estava à sua frente.”

Mas foi além e, sem meias palavras, criticou a proposta do disco:

“Para mim, The Wall agora parece um catálogo de pessoas que Roger culpa por suas próprias falhas na vida. Uma lista de ‘você me fdeu assim, você me fdeu daquele jeito’.”

Ou seja, enquanto Waters via o disco como um retrato emocional e psicológico, Gilmour enxergava um projeto egocêntrico e amargo.

Se tem um álbum que define a complexidade do Pink Floyd, é esse. The Wall é um gigante sonoro, mas também um monumento às brigas internas que acabaram explodindo a banda. No fim, o muro construído por Waters não era só metafórico – ele acabou se tornando real dentro do próprio Pink Floyd.

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