KNOTFEST BRASIL 2022: MASSACRE SONORO PARA FECHAR O ANO
22 de dezembro de 2022
Sucesso de público e com grandes apresentações, festival do Slipknot estreia no país com fôlego para ficar
Por Carlos Eduardo Oliveira
E eis que no apagar de 2022, o calendário rocker brasileiro ganha mais uma robusta opção: promovida pelo Slipknot, a primeira edição em terra brasilis no Knotfest foi um acerto. E os indicadores são de que veio para ficar.
Somando acerto na escolha das bandas, o evento levou perto de 45 mil pessoas – quase todos os ingressos vendidos – ao Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.
Boa parte do público chegou após o final da Copa do Mundo do Qatar. Mas quem veio mais cedo, pode acompanhar o jogo por um telão – outro acerto – em frente a uma arquibancada, a meio caminho dos dois palcos.
Ao longo do dia, aparentemente tudo funcionou direito: banheiros sem grandes filas, alimentação com várias opções de foodtrucks, duas ou três lojas de merchandising oficial, inúmeros atendentes volantes de cerveja, término em horário condizente com um domingo.
O som esteve perfeito. E a distância entre os palcos, apesar de longa, era ok.
A música rolou desde as 11 da manhã. No Knotstage com Black Pantera, Project 46, Vended e Mr. Bungle. No palco apelidado Carnival Stage (“Palco do Carnaval”), Oitão (do chef Henrique Fogaça) + Jimmy & Rats, Trivium e Sepultura (que talvez merecesse horário mais nobre).
É ótimo ouvir um thrash metal “raiz” num grande festival. Com o Sambódromo já bem cheio, o Pantera, reformulado, fez um show redentor, várias vezes saudado por legiões de fãs berrando o nome da banda, para incredulidade do vocalista Phil Anselmo.
Não é demais lembrar as recentes polêmicas do cantor, no fundo um bobalhão (ou redneck, racista) que fez saudações nazistas em shows e quase “cancelou” a banda assim que esta voltou à cena, com ele e o baixista Rex Brown da formação original, mais o reforço (e que reforço!) do batera Charlie Benante (Anthrax) e ninguém menos que Zakk Wylde, “o guitarrista do Ozzy”, nas seis cordas.
Melhor separar a obra, o legado do Pantera. Até porque a volta usando o nome original teve o aval da família Abbott, dos irmãos fundadores, o baterista Vinnie Paul e o guitarrista Dimebag Darrell (falecidos em 2018 e 2004, respectivamente)
Exceção feita a alguns fucks, Anselmo, que nem agita mais em cena como antes, pareceu muito gratificado de estar ali. O setlist passou em revista hits do metal 90’s como 5 Minutes Alone, I’m Broken, Fucking Hostile e Cowboys From Hell.
Dois fatos: a estupenda atuação de Zakk Wylde na guitarra, um assombro; e o longo cover da psicodélica “Planet Caravan”, do Black Sabbath (do álbum Far Beyond Driven), momento escolhido para a tocante homenagem aos irmãos falecidos, com imagens deles no telão contrastando com a sobriedade momentânea dos músicos, recolhidos ao fundo do palco. Pena que quase ninguém entendeu.
Bandas como o Bring Me the Horizon são um acerto em grandes festivais, e o público correspondeu à altura – inclusive ao vocalista Oliver Sykes que, do alto de um esforçado português, força barras e fala até demais. Mas relevância artística não é o forte do quinteto inglês, que requenta um metalcore, ou metal alternativo, influenciado por Linkin Park e Evanescense.
Judas Priest e Slipknot
Todos os clichês estavam lá: muito couro, tachinhas, a possante Harley-Davidson no palco.
Mas o que torna o Judas Priest ainda essencial na turnê de 50 anos de carreira é a sincera devoção à música pesada. “The Priest is back”, saldou Rob Halford, 71 anos (mas parecendo mais). Com a voz ainda em plena forma, o veterano vocalista atinge agudos quase inacreditáveis.
Exceção feita talvez ao AC/DC, não existe hoje no planeta rock ninguém que toque tão alto – impressionante.
Criativo, o cenário do palco mimetizava uma caótica usina termoelétrica.
E tome pedradas: Eletric Eye, You’ve Got Another Thing Coming, Turbo Lover, Screaming for Vengeance, Painkiller, The Green Manalishi.
O bis trouve Halford a bordo de sua Harley e, de uma tacada só, Hell Bent for Leather, Breaking the Law e Living After Midnight, emendadas – um tsunami sonoro.
Uma avassaladora e memorável apresentação dos deuses do metal tradicional, ainda em grande forma. Long live the Priest!
A essa altura era claro: independentemente de banda ou estilos preferidos, estava todo mundo lá para ver os anfitriões.
Em sua quinta passagem pelo país, o Slipkot entregou um show à altura do esperado. Jogando para a torcida, chamando todos de “meus amigos” e “família”, o cantor (e fundador) Corey Taylor esbanjou simpatia e presença de palco, e a trupe de Des Moines, Iowa, brindou o público com praticamente todos os seus hits – um fechamento à altura do festival.