Camisetas ironizam estética anos 1990 e 2000 em estampas com memes, personagens e WordArt
4 de outubro de 2023
Via Portal G1
Num retorno ao estilo, camisetas estampadas por personagens como Agostinho Carrara, de “A Grande Família”, Rochelle, de “Todo Mundo Odeia o Chris”, e Dwight Schrute, de “The Office”, vêm ganhando espaço no guarda-roupa da geração Z, os nascidos entre 1995 e 2010.
Músicos, atletas, influenciadores e até políticos também estão entre os rostinhos de sucesso das blusas retrô, produzidas a partir de montagens chamativas, fotos posudas e letras grafadas em WordArt.
Fique feio?
“São sempre estampas com muito brilho e muita cor. Por ser uma parada chamativa, extravagante, tem que ser alguém que goste desse visual forte”, afirma David dos Santos, responsável pela Conquista Apparel.
O fundador da marca diz que houve um recém-aumento de compras na loja. Com estampas que homenageiam jogadores de basquete e cantores de rap e r&b, as roupas variam entre R$ 170 e R$280.
“A gente tenta fazer algo bonito, na melhor forma possível”, diz ele, ressaltando que compreende o porquê tantas pessoas consideram o estilo cafona.
Mas a camiseta retrô tem feito tanto sucesso que até mesmo quem lhe considera brega pode querer vesti-la. O próprio conceito do visual está repleto de ironia.
Chamada Stay Ugly (Fique Feio, em inglês), uma loja online vende camisetas que soam, como seu nome sugere, um deboche às ideias de feio e bonito.
Sem esforços, suas estampas despertam risadas, com imagens que vão da novela mexicana “Marimar” a um coração que insinua romance entre Paris Hilton e Nicole Richie.
A era do meme
Professora de moda, Susanne Dias afirma que muito dessa ironia tem a ver com a maneira que operam as redes sociais, onde piadas têm destaque garantido e circulam com rapidez.
“Algumas marcas até fazem estratégia para um produto viralizar a partir de memes, ou algo que faça as pessoas debaterem por dias. A Balenciaga, por exemplo, fez isso com o tênis que parece usado”, diz a especialista.
Diferentemente dos anos de 1990, quando surgiu, a estética da camiseta retrô tem, agora, a possibilidade de ser confeccionada mais rápido. As inspirações para seu design, segundo Susanne, também crescem com maior fluidez.
O humor das estampas atuais contempla deboches contemporâneos, como os que zombam do design digital dos primórdios da internet, com sua grafia exagerada e chamativa. Ainda assim, afirma a professora, as camisetas do estilo sempre foram, em alguma medida, irônicas.
“No final dos anos 80, o streetwear ficou muito forte, e já nasceu de maneira irônica, numa sátira aos conceitos de ‘automoda’, baixa moda, chique e brega.”
Nesse embalo, as camisetas de idolatria pop surgem em formato oversize, o que levantou questionamentos às ideias de desleixo, silhueta feminina e estereótipos de gênero, explica Susanne.
Vestindo a camiseta
A professora afirma ainda que a própria trajetória da camiseta enquanto indumentária tem um traço irônico, com uma marcante inversão de valores sobre sua função.
Até a metade do século 20, esse tipo de blusa era visto como uma peça exclusivamente íntima. A partir da década de 1950, muda-se, então, a percepção cultural sobre a camiseta, fazendo com que o look fique mais popular e ganhe estampas para decorá-lo.
Para a especialista, o retorno ao design vintage do streatwear dos anos 1990 e 2000, que incluem camisetas com referências que vão de Pedro Pascal a Shrek, é também parte da onda nostálgica na cultura pop.
“Faz um tempo que estamos vendo uma nostalgia aos anos de 1990 e 2000. As camisetas retrô surgem neste contexto.”