Black Pumas, Pavement e Daniel Caesar são destaques do C6 Fest; veja como foi festival em SP
20 de maio de 2024
Por Braulio Lorentz, Portal G1
Herdeiro do Tim Festival e do Free Jazz, o C6 Fest promoveu sua segunda edição neste fim de semana, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Como nos festivais que deram origem a ele, o evento aposta em vários palcos distantes entre si (arena com gramado, tenda, auditório e uma pista em um teatro).
A programação também respeitou a tradição dos eventos produzidos por Monique Gardenberg, diretora e fundadora da Dueto, produtora responsável pelos três eventos. Os line-ups costumam ter atrações do jazz, medalhões brasileiros, ícones alternativos e nomes internacionais interessantes, mas que ainda não estouraram de vez.
Na edição deste ano, os destaques foram norte-americanos, com som bem diferente entre si: o blues rock intenso do Black Pumas, a celebração indie roqueira desleixada do Pavement e o talento soul de Daniel Caesar, uma espécie de Bruno Mars mais alternativo.
No domingo (19), o cantor canadense de 29 anos mostrou por que é um dos nomes mais celebrados do novo R&B. Caesar consegue evocar a suavidade do R&B anos 90, mas com arranjos eletrônicos que deixam tudo menos datado.
Ao vivo, ele conduziu um show tranquilão e romântico, com setlist em que cabe uma cover do Coldplay (“Sparks”) e um sucesso de rádio (“Best Part”). No Rio, ele convidou Ludmilla para um dueto no hit, mas em São Paulo, preferiu cantar sozinho. O vocal é impecável, mas ele deixa várias partes para serem cantadas apenas pelos fãs superanimados.
O Black Pumas fez um show na arena com plateia mais cheia e ainda mais empolgada. O grupo que tem como núcleo base o vocalista Eric Burton e o guitarrista Adrian Quesada foram a atração mais celebrada do sábado (18). Como no show do Lollapalooza 2022, a força da banda está na performance vocal de Burton, escudado por duas ótimas vocalistas de apoio.
O repertório decolou com canções como “Colors”, “Fire” e “Sugar Man”, cover do cantor americano Sixto Rodriguez. Ele teve história retratada em “Procurando Sugar Man”, ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 2013. No bis, Burton relembrou os tempos em que tocava na rua sozinha em troca de uns trocados, com bonita cover de “Fast Car”, de Tracy Chapman.
O Pavement fez o show mais celebrado da tenda, no domingo (19). A banda abriu o show com uma homenagem para a produtora mineira Fernanda Azevedo, que morreu na quinta-feira (16) aos 47 anos e era fã do Pavement.
O repertório se dividiu entre a discografia formada por cinco álbuns de estúdio lançados entre 1992 e 1999. Após longas pausas, o retorno atual da banda americana veio em 2022, ainda sem discos de inéditas. Foi uma celebração indie, com uma plateia devota formada em grande parte por fãs com mais de 35 anos, que cantaram refrões e até solos de guitarra.
O vocalista Stephen Malkmus, em boa forma, e seus companheiros responderam com performance bem melhor do que a do festival Planeta Terra, também realizado em São Paulo, em 2010.
Novidades do pop
O festival também teve parte do line-up dedicada a novidades do pop, como a britânica Raye e a nigeriana Ayra Starr. A popstar africana levou ao palco da arena uma banda completa com baixista, baterista, guitarrista, saxofonista, tecladista e DJ.
Antes de cantar seus dois maiores hits (“Commas” e “Rush”), ela dançou até o chão um medley de funk iniciado com “Passinho do Volante” (do refrão “Ah lelek”) rodeada por quatro dançarinas. No sábado, Ayra é um dos nomes da cena afrobeats, o pop dançante que mistura estilos mais óbvios como R&B e rap com ritmos mais tradicionais da África Ocidental.
No domingo, Raye mostrou talento, mas pareceu um pouco nervosa. A performance teve declarações meio incomuns como “O que ‘eu te amo’ significa?” e tropeços em seu vestido vermelho longuíssimo. A cantora começou a ser mais falada em 2017, quando entrou na lista BBC sound of, que ajudou a impulsionar a carreira de Adele, Florence e Sam Smith.
Em 2024, a inglesa foi a grande vencedora do Brit Awards, com seis estatuetas. Na premiação, apareceu em categorias voltadas para o Pop e para o R&B, o que dá pistas de seu som. Ele é ao mesmo tempo cantarolável, mas vem carregado do peso e da melancolia da soul music. Raye é uma cantora que merece ser acompanhada de perto, mas ainda não entrega tanto.
A programação também teve espaço para representantes da música eletrônica, como Romy, integrante do The xx, grupo de indie eletrônico. Em show baseado em seu álbum de estreia solo (“Mid Air”, de 2023), a cantora apresentou canções diretas influenciadas por house, trance e eurodance.
O som good vibes, com direito a coraçõezinhos com as mas mãos na plateia e no palco, tem momentos de pura motivação, como “Enjoy your life”, que repete a frase (“Curta sua vida”) quase 50 vezes.
Não foi muito fácil curtir a vida ao som do show de estreia do Soft Cell no Brasil. A dupla inglesa de pop com sintetizadores entregou uma apresentação que parecia um karaokê ao vivo, com som embolado, vocais trôpegos e uma debandada da plateia.
O duo formado por Marc Almond e David Ball viveu seu auge entre 1978 e 1984, época em que lançou o hit “Tainted Love”, cover de uma música soul com versão original cantada pela americana Gloria Jones, em 1964.
Além dos três álbuns nos anos 80, eles lançaram dois outros em 2002 (“Cruelty Without Beauty”) e 2022 (“Happiness Not Included”). Ficou claro, porém, que ninguém estava curtindo tanto o show quanto o vocalista Marc Almond.
Via Portal G1