MOTLEY CRUE + DEF LEPPARD: NOITE MEMORÁVEL DE HARD ROCK
13 de março de 2023
Por Carlos Eduardo Oliveira
É preciso certo distanciamento e olhar o copo “meio cheio”, para ressaltar o sucesso artístico da passagem da “The World Tour” pelo Brasil – leia-se, Motley Crue e Def Leppard.
Embora certamente o número de ingressos vendidos tenha ficado aquém da expectativa dos organizadores – a gigante do entretenimento Live Nation -, no balanço global do show business, shows médios fazem parte da conta. É assim que a banda toca. Não precisa ser show de estádio lotado para comprovar o acerto da curadoria. E foi justamente essa a constatação, a julgar pelo que as duas bandas entregaram: uma noite memorável para quem esteve no Allianz Park, em São Paulo.
O cantor Edu Falaschi iniciou os trabalhos, prejudicado que foi pelo péssimo som. Pela maçaroca (quase) inaudível, constata-se que grandes arenas talvez não sejam o melhor lugar para o pomposo (e pretensioso) power metal do ex-cantor do Angra, que teve tempo apenas cinco músicas, alegando que seu setlist foi compulsoriamente cortado. O que deve ser verdade, a julgar pela inacreditável invasão de palco de técnicos e mão de obra auxiliar assim que o último acorde soou, com os músicos ainda em cena. Grosseria desnecessária.
MOTLEY CRUE
Confesso que, a julgar pelos discos com excesso de “laquê” nas produções, nunca fui muito fã e até duvidava um pouco sobre o poder de fogo dos shows do Motley Crue, a quem nunca tinha visto ao vivo antes. No Rock in Rio 2017 abrindo para o Metallica, os controversos californianos pareciam não muito à vontade (em show visto pela TV), talvez pela “responsa” da estreia no monstruoso e mundialmente célebre festival sabendo que 90% dos que lá estavam era por conta dos headliners.
Mas é ótimo ser surpreendido, quando o assunto é rock’n’roll.
Aliás, foram duas as surpresas: de onde teria saído tanto fã do Motley Crue?
Durante as duas primeiras duas canções, quase não dava para ouvir a banda, tamanho o berreiro do púbico, letras na ponta da linha e um uníssono gutural de Crue! Crue!
Ao vivo, a overdose de produção de estúdio dá lugar a uma banda raçuda, consciente de seu tamanho e que entrega um hard rock de primeira, contagiante, que em 90 minutos abarcou toda a longeva carreira do grupo.
A entrada de John 5 na guitarra em substituição ao afastado (por doença incapacitante) Mick Mars acelerou a dinâmica de palco: o casa estava “on fire”, não parava um minuto, despejando riffs e solos – com direito até a ganhar uma calcinha de uma fã, devidamente pendurada no braço de sua Fender.
Em forma, com alguns bons quilos a menos, o cantor Vince Neil continua com o registro vocal em dia, e ótimo domínio cênico.
Pesa ainda a favor da banda o carisma de Tommy Lee (bateria, seguro, apenas, e só) e do baixista Nikki Sixx – esse sim, “encorpando” o som do quarteto –, ambos com direito a momentos-solo junto ao público, na passarela do centro do palco.
Destaque ainda para as duas belas e sensuais vocalistas de apoio, um clássico do Crue em seus concertos.
De quebra, o Motley Crue tirou “do armário” um tipo roqueiro que pouco se vê por aí: o roqueiro glam metal brazuca, facilmente identificável: um exército de homens e mulheres em figurinos pra lá de duvidosos.
DEF LEPPARD
Muitos anos atrás, um amigo do Rio que morava em Los Angeles me avisou: “Te prepara, quando for num show deles. Ao vivo, o Def Leppard é perfeito”.
E é mesmo. Impressiona o fato de estar-se “ouvindo o disco” com a energia da experiência ao vivo.
Impressiona o fato da bateria adaptada de Rick Allen funcionar sem que o hard rock/metal do quinteto britânico perca força ou soe “leve” – ao contrário, a pegada é de rockão energético; ao mesmo tempo, o baixo de Rick Savage, o fundador da turma de Sheffield, preenche todos os espaços com precisão milimétrica.
Com cabelos assumidamente brancos, o veterano vocalista Joe Elliot, aos 63 anos, cantando tão bem quanto no início de carreira.
Nas guitarras, Vivian Campbell e Phil Collen – este, tocando sem camisa, como faz desde os primórdios do grupo – revezam-se à perfeição em riffs e solos, não raro mais de uma vez dentro da mesma música.
E o que dizer das poderosas harmonias vocais – exceto Rick Allen, todos cantam – e das envolventes baladas, capazes de fisgar o fã mais hardcore do Slayer?
De quebra, das 17 canções do setlist, doze eram hits consagrados: “Rocket”, “Foolin’”, “Armaggedon It”, “Photograph”, “Hysteria”, “Let’ Get Rocked”, “Rock of Ages”, e por aí vai.
Uma apresentação memorável, dentro da fórmula certeira do primeiro grande festival do ano.
“Não esqueçam da gente que não esqueceremos de vocês. Até a próxima – e haverá uma próxima vez, Brasil”, prometeu Elliot.